quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Elementos: Sobre a Raiva.

Li uma vez uma parábola onde Buda equiparava a raiva ao acto de se pegar numa brasa com as próprias mãos e atirá-la a alguém. Ambas as pessoas se magoam, mas quem a arremessa fere-se primeiro. Pareceu-me uma das melhores imagens para ilustrar esse tipo de emoção.

A origem da raiva normalmente reside num sentimento de mágoa que a pessoa retém por alguma razão. A partir daí a tendência é quase sempre a de se responder na mesma moeda, quer essa resposta seja conscientemente dirigida ou não. Contudo, essa atitude acaba por ser absurda pois é inegável que expressar raiva em direcção a outros para além de não ser uma solução só levará a mais ira e dor. “Se procuras vingança, então primeiro cava duas sepulturas!”, é o que diz um célebre ditado chinês a propósito da raiva e da agressão.

Porém, reprimir a raiva sem lidar com ela é igualmente nocivo. Neste sentido, há também quem se auto-agrida, engolindo as brasas ao invés de arremessá-las. Aí a cólera é interiorizada causando graves enfermidades à pessoa que se repercutem na sua saúde e relações de modo devastador.

O primeiro antídoto para a raiva é a tomada de consciência. A pessoa tem que fazer uma análise da causa desse sentimento que a toma e do modo como o expressa. Aceitar e integrar as experiências que causaram dor e mágoa, percebendo que tudo tem um sentido ‘pedagógico’ na vida, trás desenvolvimento pessoal e mais tarde libertação. Essa compreensão inevitavelmente levará à diluição da cólera, resultando em amor-próprio e num bem-estar genuíno. Em suma, passa por aprender a gostar de si tal como se é enquanto fruto das suas experiências, reconhecer a perspectiva de crescimento que as mesmas trazem.

Quando esse patamar é atingido, torna-se muito mais fácil entender os outros, até mesmo os que nos causaram dor. Compreende-se que só alguém infeliz e/ou ignorante poderá fazer o que quer que seja no sentido de nos magoar. Infeliz porque naturalmente não estará bem consigo próprio. Ignorante por descurar que toda e qualquer atitude mal-intencionada contra outrem estará sempre sujeita a um inevitável efeito boomerang: “o mal que se faz volta a dobrar”, é uma lei ‘física’.

É deste momento em diante que a pessoa começa a ter um comportamento naturalmente assente em Bondade e Compaixão. No fundo é um processo em que a pessoa tem primeiro que ser bondosa e compassiva para consigo próprio e depois para com os outros.


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