terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Effetha (“Abre-te”)

Com os ombros meio encolhidos, tinha os olhos postos no ecrã da televisão desligada que estava à minha frente.
- Eu só queria saber em que momento da minha vida era suposto virar à esquerda e virei à direita, entendes? Só isso, para poder retomar o meu Caminho. Não é que estivesse a lamentar-me, mas as palavras saíram-me a soar a desabafo. Um calmo, linear e meditado desabafo.
- Lembras-te naquela vez em que estivemos aqui a falar e que me disseste que foste para o curso com o objectivo de descobrir o Elixir da vida…
- Não foi isso!
Interrompi-a. O que te disse foi que fui para o curso com o ideal e o objectivo de provar cientificamente a existência da Alma.
- Exactamente.
Firmou, ela. Foi aí que aconteceu o desvio.
Instantaneamente, franzi o sobrolho e olhei para ela. Fora apanhado de surpresa. E com isso via-me numa posição à qual não estava habituado.
- Tu propuseste-te a seguir um Caminho que não é o teu. Foi aí o teu engano. Tu propuseste-te a traçar um rumo que não faz sentido. Não podes tentar provar uma Coisa que tu próprio, mais do que tudo, já sabes que existe e que não precisa de ser provada. Uma Coisa que para ti já está provada!
Surpreendido, mantive-me absorto nas palavras dela. Quase como que perplexo.
- Nesse sentido, tu às vezes és como aquele Apóstolo, o de ‘ver para crer’. Tens que ter um pouco mais de Fé. Acredita!
E fiquei olhando o vazio estampado no ecrã diante de mim. Como quando desfocamos a vista e olhamos para uma espécie de nebulosidade à nossa frente que nos remete obrigatoriamente para os nossos pensamentos. Uma espécie de estado máximo de concentração. Tinha acabado de ser confrontado com algo. Na verdade, acabava de me ser oferecida uma Revelação. Fazia-se Luz. Fiquei, pensativo.

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